Nota prévia: escrevo como cidadão independente que sempre fui e estas linhas não me vinculam a nada, nem mesmo como militante e candidato autárquico do Bloco de Esquerda.
Mas vamos ao debate que eu vi.
Desde logo, saúdo os jornais "Setúbal na Rede" e "Diário da Região" por terem conseguido arrancar a ferros este debate entre os candidatos das seis forças políticas concorrentes á CMB, com a notada não comparência de Paulo Ferreira do CDS. Arrancado a ferros, porque foi o que terá tido mais dificuldades em se realizar, quando estavam marcados todos os outros, nos 12 concelhos do Distrito.
Começando por Carlos Humberto, CDU (que pessoalmente reconheço que é uma pessoa esforçada,interessada na defesa dos interesses da sua cidade...) caiu na armadilha demagógica e bem estudada dos candidatos da oposição á sua direita, PS e PDS. Respondeu sempre, por vezes tomado pelo calor da discussão e da emoção aos golpes desferidos especialmente por Luís Ferreira do PS que o chegou a tratar por "senhor vereador sem pelouro". Esperava-se do catual Presidente da Camara, uma postura mais institucional, mas sobretudo, que rebatesse ponto por ponto as questões em torno do seus dois mandatos. Carlos Humberto não teve respostas convincentes quanto às alternativas ao modelo de desenvolvimento que preconizou e que nos últimos dois anos teve como "farol" o projecto da terceira travessia sobre o Tejo. Projecto engavetado sine die, por causa da Troika. Não apresentou alternativas. Não explicou bem o que se passa com a questão dos assessores externos, que ganham 3 mil e 500 euros. Disse que não sabia quantos há/havia…ainda assim arrancou algumas gargalhadas ao recuperar o célebre “Olhe que não, olhe que não”, do histórico debate Soares/Cunhal em 1975, quando desmentia Bruno Vitorino.
Luís Ferreira, do PS, em minha opinião minou completamente a sua credibilidade no debate ao ter produzido uma declaração de baixa política, ao ter recorrido a um trágico acidente mortal numa paragem de autocarro (que nada teve a ver com as condições técnicas do veiculo), para zurzir na gestão dos Transportes Colectivos do Barreiro. O recurso é infeliz e não augura nada de bom quanto á prestação deste futuro autarca do meu município. A menos que tivesse pedido desculpa ou venha a pedi-la.
É a política ao mais baixo nível.
Não encontrei também grandes diferenças entre os programas do PS e do PSD, exceptuando talvez, uma maior atenção dada pelos socialistas á crise social no Barreiro. De resto, um PS que copiou do Bloco de Esquerda, compromisso para um Programa de Emergência Social.
Luís Ferreira entrou também em clara contradição, porque ao criticar a construção do Centro Comercial Continente- e que segundo ele, destruiu o comercio tradicional na Verderena-, contornou a muito polémica construção de outra grande “catedral” de consumo, essa sim no coração da cidade, o Fórum Barreiro, cuja adjudicação data do mandato socialista de 2001-2005…Não foi capaz, também de justificar o facto de o mandato socialista ter quase duplicado a divida brutal da CMB, que em 2001 era de 20 milhões de euros e quatro anos depois galgou para os 37 milhões.
Bruno Vitorino, do PSD, sublinhe-se teve uma postura muito mais moderada que o seu adversário do PS, detalhando as suas propostas, de forma clara, mas com alguma demagogia pelo meio, não tendo sido capaz de se demarcar das politicas do Governo PSD/CDS que são as principais responsáveis pela situação que o País e o Concelho do Barreiro atravessam.
Questão, de resto não esquecida por Humberto Candeias, do Bloco de Esquerda, que nomeou de forma consistente, as responsabilidades deste Executivo de Passos Coelho.
Candeias levantou a questão da pesada carga fiscal sobre os munícipes que pagam das mais altas taxas de IMI, assim com as tarifas de consumo de agua, que é a mais cara do Distrito de Setúbal. Não esqueceu algumas bandeiras hasteadas pelo BE nestas eleições, como a da salvaguarda do Património, e dos compromissos para um desenvolvimento sustentável. O passivo da CMB foi referido por HC que alertou para a degradação da qualidade dos serviços municipais, potenciada pelas dividas que em muitos casos são de 600 e tal dias, para com os fornecedores da autarquia( segundo o PSD).
Muito cauteloso, evitou ao longo de todo o debate questionar e atribuir responsabilidades, de forma directa ao candidato da CDU. Que recusou dar explicações sobre o Bairro Ferrovário, inscrito pela CMB como patrimonio,mas cujos moradores estão em vias de ser despejados, em nome de interesses imobiliarios.
Humberto Candeias, foi o único dos candidatos que apelou á participação dos eleitores nestas autárquicas, ja que são crónicos os níveis de abstençao em eleiçoes autárquicas
Já o candidato do PCTP/MRPP, Carlos Salgueiro criticou todas as forças politicas que têm responsabilidades na governação camarário e no Pais, ao responsabilizar os sucessivos mandatos pelo aumento da dívida. O porquê da divida.
Este não é um relato circunstanciado do que foi o debate, é tão-somente um conjunto de impressões pessoais de uma discussão que podia ter descido a outros aspectos mais concretos e sentidos pela população. Perdeu-se mais de uma das três longas horas, a falar de impostos.